terça-feira, 15 de outubro de 2019

DIA DOS PROFESSORES: Minha Singela Mensagem

Conforme faço todos os anos, no dia do professor gosto de trazer à tona a história de algum educador que me tenha inspirado em especial. Faço isso porque considero o magistério a profissão mais importante que existe e porque ensinar é a atividade mais bonita e prazerosa que já encontrei. Outro motivo que me leva a escrever esses parágrafos sobre algum educador mais famoso é que, desta maneira, consigo estender minha homenagem a todos os professores (de carreira ou não) que já cruzaram o meu caminho, instruindo-me a me tornar a pessoa que sou hoje, apta a ajudar outras a também descobrir a extensão de seus talentos e a encontrar o propósito de suas existências, pelo que sou eternamente grato.

A história deste ano é a da Anne Sullivan Macy, professora da Helen Keller. Embora injustamente pouco famosa nos dias de hoje, a história da Anne Sullivan é um dos maiores exemplos do quão longe se pode chegar, em qualquer ramo da experiência humana, quando existem educação, paciência, esforço, paixão e boa vontade atuando em conjunto.


Helen Keller foi uma menina que nasceu no Alabama em 1880. Aos 19 meses de idade, uma doença à época conhecida como "febre cerebral" a deixou cega e surda. Nessa condição, sua capacidade de entrar em contato com o mundo exterior era praticamente nula, e, por consequência, suas chances de aprender a falar ou a pelo menos se expressar com um mínimo de eficácia também estavam próximas de zero. Após essa enfermidade, Helen, que era um bebê ativo e alegre, tornou-se uma criança triste, apagada, irritadiça e sem ânimo. Ela parou de brincar, não gostava da presença das outras pessoas e visivelmente não se importava com coisa alguma. Estudar não era possível para ela, e até mesmo se alimentar lhe era desagradável, de modo que por vezes a pequena Helen arremessava talheres, derrubava comida, se exasperava com os pais, gritava e chorava. E é com esses tons tristes e sem vida que seria composta toda sua história, não fosse a presença miraculosa de Anne Sullivan.

Tudo começou quando os pais de Helen leram um relato do escritor Charles Dickens a respeito da educação bem-sucedida de uma mulher surda (coisa rara naqueles tempos) e intensificaram a procura por auxílio médico para a filha, encaminhando-a para certos institutos apropriados. Algum tempo mais tarde, o destino a pôs em contato com a instrutora Anne Sullivan, uma jovem vivaz, também com deficiência visual, que no momento contava com apenas vinte anos de existência.

Além de um cuidado exemplar para com Helen e uma perseverança digna de santa, Anne Sullivan adotou um método de trabalho altamente eficiente que atinge a essência mais básica de tudo aquilo que entendemos por comunicação, por expressão, por linguagem e por aprendizagem. Mesmo tendo de aturar a incompreensão irritada de sua aprendiz, que ainda era incapaz de perceber o propósito de tudo aquilo, o procedimento lento, mas inflexível, de Anne Sullivan foi o de ficar levando uma das mãos da Helen a uma vasilha e, na outra, ficar fazendo sinais com os dedos, repetidamente, dias após dia, até o momento em que Helen finalmente entendeu que aqueles sinais significavam "água": aquele líquido desconhecido, ainda sem nome, que se usa para lavar o corpo e para matar a sede. A partir daí, Helen conseguiu entender que uma coisa pode ser representada por outra coisa (signos e objetos, significado e significante), e pela primeira vez uma via de diálogo efetivo foi aberta para aquela criança cega e surda que acreditava estar condenada a uma existência de trevas e solidão.

Passo a passo, a garota foi ampliando suas capacidades de comunicação e de interpretação. Sensações vagas, estímulos confusos e emoções incompreensíveis foram ganhando materialidade ordenada na mente de Helen. As primeiras formas realmente definidas se insinuavam na estrutura de sua imaginação. Cores e sons, embora inacessíveis, faziam-se presentes tanto quanto aromas e contatos tácteis. Acima de tudo, ferramentas palpáveis podiam ser usadas para finalidades práticas de grande utilidade. Ela não precisava mais berrar e se espernear para conseguir um prato de comida: era só fazer os sinais corretos e tudo ficaria bem. Não era mais necessário esperar até que lhe dessem algo para beber: bastava usar os sinais adequados, indicar a palavra certa, e todos a compreenderiam prontamente. Ainda mais, novas possibilidades surgiram para brincadeiras, para histórias, para piadas, para compartilhamento de sentimentos, para o amor e para a poesia. Guiado pelo carinho de sua instrutora, o espírito de Helen se acendia e brilhava enquanto o ânimo de viver inundava-lhe o coração e se tornava visível em sua face: era a aquisição da linguagem, sem a qual todos nós, e não apenas os cegos e surdos, padecemos inermes no mundo de trevas (pois quem não sabe ler não se maravilha com a literatura, quem não sabe geometria e aritmética não se apraz com os encantos da matemática, e assim é em todas as facetas da vida, uma vez que, como sabemos, "os limites do nosso mundo são os limites da nossa linguagem").

A história completa de Helen Keller e de sua professora Anne Sullivan é muito maior e mais rica do que eu poderia sintetizar em um único texto. Mas é de se enfatizar que o desenvolvimento de Helen foi tão pleno e eficaz que, ainda na juventude, ELA MESMA escreveu a história da sua aprendizagem, tornando-se escritora de um talento admirável e, posteriormente, uma das mais importantes defensoras dos direitos das pessoas com deficiência. A literatura de Helen Keller é realmente excepcional, não ficando atrás dos méritos da de um Mark Twain (autor com o qual ela nutria admiração mútua), e, pelo que sei, suas façanhas na vida civil não foram de menor brilho.

Esta é Helen Keller: uma mulher cega e surda, no final do século XIX e começo do século XX, lutando por igualdade, voando livre com asas próprias, mas sempre agradecida por ter aprendido a voar com sua professora Anne Sullivan Macy.

Para quem quiser conhecer mais a fundo essa bela história, recomendo os seguintes livros, de autoria da própria Helen Keller: "A História da Minha Vida" e "Lutando Contra as Trevas: minha professora Anne Sullivan Macy".

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