terça-feira, 8 de janeiro de 2019

CONTO: Quem se Contenta – Italo Calvino

Conto extraído do livro "Um General na Biblioteca", de Italo Calvino (Companhia das Letras, 2010).

QUEM SE CONTENTA – ITALO CALVINO 

Havia um país em que tudo era proibido. 

Ora, como a única coisa não proibida era o jogo de bilhar, os súditos se reuniam em certos campos que ficavam atrás da aldeia e ali, jogando bilhar, passavam os dias. 

E como as proibições tinham vindo paulatinamente, sempre por motivos justificados, não havia ninguém que pudesse reclamar ou que não soubesse se adaptar.

Passaram-se os anos. Um dia, os condestáveis viram que não havia mais razão para que tudo fosse proibido e enviaram mensageiros para avisar os súditos que podiam fazer o que quisessem.

Os mensageiros foram àqueles lugares onde os súditos costumavam se reunir. 

– Saibam – anunciaram – que nada mais é proibido. 

Eles continuaram a jogar bilhar. 

– Entenderam? – os mensageiros insistiram. – Vocês estão livres para fazer o que quiserem. 

– Muito bem – responderam os súditos. – Nós jogamos bilhar. 

Os mensageiros se empenharam em recordar-lhes quantas ocupações belas e úteis havia, às quais eles tinham se dedicado no passado e poderiam agora novamente se dedicar. Mas eles não prestavam atenção e continuavam a jogar, uma batida atrás da outra, sem nem mesmo tomar fôlego. 

Vendo que as tentativas eram inúteis, os mensageiros foram contar aos condestáveis. 

– Nem uma, nem duas – disseram os condestáveis. – Proibamos o jogo de bilhar. 

Aí então o povo fez uma revolução e matou-os todos.

Depois, sem perder tempo, voltou a jogar bilhar.

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