"Precisamos ensinar que a dúvida não deve ser temida, mas que é bem-vinda e merece ser debatida. Não há problema em dizer 'eu não sei'." – Richard Feynman.
Ao contrário do que a vaidade social muitas vezes parece impor, exigindo certezas mesmo quando não as temos, o caminho para o conhecimento é delineado à luz de dúvidas e questionamentos, pavimentado por incertezas e percorrido com passos titubeantes e modestos, ainda que movidos por grande coragem. Como um sol no horizonte para o qual caminhamos sem nunca alcançar – mas sem o qual não poderíamos sequer dar o primeiro passo –, é o cálido brilho das incertezas e das boas perguntas que nos atrai em direção à verdade, e não a rigidez fria das respostas consolidadas.
Einstein, em um de seus trabalhos mais importantes e revolucionários sobre o conceito de fótons, não começou dizendo "Agora sabemos que" ou apresentando afirmações categóricas com base nas formulações teóricas e nas equações plenamente consistentes que ele passaria a expor. Muito menos ele apelou para a sólida autoridade conquistada com seu merecido sucesso na construção da Teoria da Relatividade. Muito diferentemente, o que ele escreveu foi:
"Parece-me que as observações associadas à fluorescência, à produção de raios catódicos, à radiação eletromagnética que emerge de uma caixa e outros fenômenos semelhantes ligados à emissão e à transformação da luz são mais compreensíveis se assumirmos que a energia da luz se distribui no espaço de maneira descontínua."
Veja bem: "Parece-me...", e não "Tenho certeza".
Rovelli escreve o seguinte:
"Note o maravilhoso 'Parece-me...' de Einstein, que lembra o 'Eu penso...' com o qual Darwin introduz em suas cadernetas de anotações a grande ideia de que as espécies evoluem; ou a 'hesitação' da qual fala Faraday quando, em seu livro, introduz a revolucionária ideia de campo eletromagnético. O gênio hesita."
Hesita, investiga e se autocritica, sempre.
A humildade inicial, tão essencial ao verdadeiro espírito investigativo, transparece até mesmo nos sucessos dos grandes homens. Carlo Rovelli, quando vai comentar os escritos de Einstein, não deixa passar despercebida a honestidade intelectual do físico alemão, o qual tinha plena consciência de que as verdades das ciências naturais são sempre provisórias, incompletas, e que nossas observações, mesmo quando bem fundamentadas, sempre podem ser substituídas por teorias melhores, mais acuradas, construídas com base em novas evidências.
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