sábado, 9 de março de 2019

À PROCURA DE UM MESTRE: uma parábola sufi

Muitas vezes as pessoas me perguntam por que eu, formado em Direito, resolvi estudar Matemática. Eu, fazendo um resumo de uma trajetória cheia de incertezas e descobertas, respondo que a verdade é que desde o começo a Matemática sempre foi a minha real vocação e que o Direito, embora útil para minha maturidade em diversos aspectos, foi um "erro de percurso".

A história abaixo, bastante simples, mas carregada de significados, talvez seja simbólica para fazer as pessoas entenderem essa mudança tão incomum do empenho em uma área profissionalmente promissora e socialmente prestigiada para o estudo de uma matéria que, para os leigos, parece tão destituída de méritos ou sequer de relevância para a vida prática.

Ouvi essa história há já algum tempo, e a princípio não dei muita atenção para ela, mas, por algum motivo, ela ficou gravada na minha memória. Quando finalmente decidi trocar a fantasia sufocante de ternos, gravatas, processos, audiências e confrontos humanos muitas vezes mesquinhos e contraproducentes pela pureza libertadora do raciocínio lógico, dos teoremas e das relações profundas e abstratas, essa pequena parábola sufi finalmente se revelou em toda a sua luminosidade para mim, e desde então conto essa historinha para todo mundo que se interessa.

Ei-la:

Um homem, um buscador, foi até um místico sufi e perguntou:

– Estou procurando um mestre. Soube que o senhor é um homem sábio. Pode me dizer quais são as características de um mestre? Como posso julgá-lo? Mesmo que eu encontre um mestre, como vou saber decidir se ele é meu mestre? Sou como um cego; sou ignorante, não sei nada a esse respeito. E dizem que, sem encontrar um mestre, ninguém consegue encontrar Deus. Por isso estou em busca de um mestre. Ajude-me.

O velho sufi disse poucas coisas ao homem:

– Estas são as características. Você encontrará o mestre deste modo, com este tipo de comportamento, e ele estará sentado sob uma árvore como esta. Ele estará usando uma túnica como esta e seu olhar será como este.

O homem agradeceu ao velho místico e partiu em sua busca. Trinta anos se passaram e o homem perambulou quase o mundo todo, mas não conseguiu encontrar aquele que seria seu mestre segundo a avaliação do velho místico. Cansado, exausto, frustrado, ele voltou à sua cidade natal e foi procurar o velho. Este havia se tornado muito idoso, mas no momento em que ele passa... O velho está sentado debaixo da mesma árvore – de repente ele vê que aquela é a árvore sobre a qual lhe falara o velho místico. E aquela é a túnica que ele havia descrito, e aqueles são os olhos, e aquele é o silêncio que o místico sufi descrevera. Esta é a benção sentida na presença do mestre. Ele fica eufórico.

Mas uma grande questão também surge em sua mente. Ele se inclina, toca os pés do místico e diz:

– Antes que eu me torne seu discípulo, diga-me: por que o senhor me torturou por esses trinta anos? Por que o senhor simplesmente não me disse naquela ocasião:“Eu sou seu mestre”?

O velho mestre começou a rir e falou:

– Eu disse a você: “Ele estará sentado debaixo de uma árvore como esta” – e esta é a árvore debaixo da qual eu estava sentado! E disse a você: “Esta será a túnica que ele estará vestindo” – e eu estava vestindo a mesma túnica! Eu era então o mesmo homem, mas você não estava alerta. Você não conseguia me ver – você precisava desses trinta anos de viagens de um canto ao outro canto do mundo; você precisava de todo esse esforço para me reconhecer. Eu estava aqui, mas você não estava aqui.

E o velho continuou:

– Agora você também está aqui, você consegue me ver. E eu tive que esperar por você. Não foi um problema apenas para você o fato de estar viajando. Pense em mim – estou tão velho e não podia sequer morrer antes de você voltar. E não mudei a túnica, para você não me perder de novo – durante trinta anos nem por um único momento eu deixei esta árvore! Mas você veio. A jornada foi longa demais – mas esta é a maneira pela qual a pessoa descobre.

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