"Ler fornece ao espírito materiais para o conhecimento, mas só o pensar faz nosso o que lemos" — John Locke.
Hoje, enquanto meu celular permanecia no conserto, — de modo que, sem pix, eu não podia nem sequer comer uma coxinha ou pedir um uber —, passei algumas horas tão empolgantes quanto nostálgicas dentro do Sebo Capricho I (maior loja de livros usados de Londrina e região).
Nesse ambiente mágico que eu não frequentava havia um bom tempo (anos, talvez), enquanto a chuva caía suave lá fora, folheei algumas páginas de Mia Couto, Umberto Eco, Guimarães Rosa e Italo Calvino.
Sentir o cheiro de páginas levemente desgastadas já é um prazer à parte, mas outra ocorrência menos usual me esquentou o coração. Como atualmente o grosso das minhas leituras ocorre em ebooks, fiquei surpreso e maravilhado ao encontrar várias anotações da antiga dona em um exemplar do clássico "Seis Propostas para o Próximo Milênio", do Calvino.
Eu não tenho o hábito de grifar livros, mas confesso que acho uma delícia abrir um volume cheio de riscos, notas, críticas, observações, exclamações e comentários esboçados a mão. É um atestado de amor ao livro, um indicativo de reflexão, um testemunho de dialética intertextual privada, uma incursão à intimidade de outrem, uma prova de que não estamos sozinhos nas investigações literárias e na busca por ampliações de cultura, intelecto e imaginação.
Ler, estudar, ponderar... As atividades de um leitor em geral são bastante solitárias. É comum que a gente se esqueça de que existem outras pessoas consultando os mesmos textos, dialogando com os mesmos autores, percorrendo as mesmas veredas em que já nos enredamos e em meio às quais degustamos frutos de tão variados sabores: adocicados, insossos, amargos, cítricos, amadeirados, herbais...
Consultar livros grifados — em especial se esse livro é um Calvino em sua melhor forma! — proporciona um frescor de esperança renovada a qualquer pessoa que com todo seu sangue esteja interessada na literatura como um dos principais meios de florescimento humano.
Ao fim, virei fã e amigo platônico de alguém que nem sei quem é: Yasmin Abdalla, que, em abril de 2010, quando eu tinha ainda 17 anos, já estava estudando literatura contemporânea e se indagando sobre os desafios que autores e poetas precisam enfrentar no Século XXI.
Londrina, 04/11/2024.
Mais algumas fotos do livro:
Bônus: um macaquinho super simpático que eu conheci no mesmo dia :)
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