quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Um pouco sobre G. W. Leibniz e Bertrand Russell

Um dos meus maiores heróis da matemática (a bem dizer, da ciência e da história do pensamento humano como um todo) é Gottfried W. Leibniz.

Eu tive um contato breve com a obra de Leibniz antes de me aprofundar no estudo da Matemática, e sua linha de raciocínio lúcida e descomplicada já me despertava o interesse desde então.

Quando conheci o Cálculo Diferencial e Integral  do qual Leibniz, ao lado de Newton, é o principal fundador , percebi que valeria a pena me aprofundar mais no pensamento desse grande polímata alemão.

Leibniz escrevia predominantemente para agradar reis e nobres de seu tempo, pois isso era necessário para que ele pudesse manter sua posição privilegiada na corte e, com isso, ter subsídios para seus estudos. A filosofia madura de Leibniz  escrita com propósitos sérios de promover avanços sólidos nos fundamentos das ciências, das linguagens e dos sistemas lógicos  foi redescoberta no século XX por outro grande pensador, o qual tenho para mim como o maior filósofo que já existiu: Bertrand Russell.

Não por acaso, Bertrand Russell também foi um lógico e matemático (foi dele, em coautoria com Alfred Whitehead, uma das primeiras tentativas robustas de formalização axiomática de toda a matemática, consubstanciada nos três volumes de Principia Mathematica). Muito provavelmente, Russell, que já conhecia a teoria matemática de Leibniz e sua filosofia "light", deve ter pensado: "Alguém que desenvolve o ferramentário de derivadas e integrais, que é a base da ciência moderna, com certeza tinha muito mais a dizer em sua filosofia". Não é difícil, então, imaginar Russell vasculhando os manuscritos das bibliotecas da Royal Society até encontrar as joias de raciocínio e imaginação do filósofo germânico.

O que esses dois gigantes têm em comum, e que é a característica que mais me encanta neles, é que ambos são acessíveis e humanos e escrevem com o nítido propósito de dar a maior clareza e a maior simplicidade possíveis até mesmo para as ideias mais dificultosas dos temas que eles abordam (que, em geral, são temas árduos de se tratar com clareza, como, por exemplo, os limites da lógica e do conhecimento humano e as inter-relações entre pensamento e linguagem).

A genialidade de Leibniz e de Russell é humana, acessível e inspiradora. É possível olhar para eles e pensar, sem ironia ou soberba: "Hei, é possível ser como eles! A ciência é feita por homens e mulheres, e não por deuses! É claro que eu nunca vou alcançar tamanha grandiosidade (na verdade eu nem quero isso), mas vale a pena contribuir! Vamos começar?".



CURIOSIDADES:

1) A imagem que ilustra essa publicação é de um manuscrito original de Leibniz. Nesse manuscrito, é possível ver o belo símbol∫, inventado pelo próprio Leibniz, utilizado para denotar integração. Esse símbolo, aliás, é um dos meus favoritos na matemática.

2) A peruca volumosa usada na época já era considerada ridícula e despertava gozações mútuas entre os nobres rotineiramente.

3) Boa parte dos escritos de Leibniz se encontra em cartas enviadas para eruditos da época (físicos, matemáticos, filósofos e  pasmem!  prince
sas versadas em estudos gerais). As cartas enviadas para princesas são um deleite de se ler (existe uma tradução de algumas delas em espanhol, sob o título Filosofia para Princesas, caso alguém tenha interesse em conhecer). Dizem, nas fofocas dos bastidores da história da filosofia, que Leibniz era um garanhão entre as beldades da nobreza.

4) Quando eu ainda era bancado financeiramente pelos meus pais, eu gastei bem mais do que eu podia para comprar uma moeda alemã de 1966 feita em homenagem a Leibniz (é um grande alívio saber que eles não têm o hábito de ler sobre história da filosofia na internet, então eles nunca vão saber disso).

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