quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

MATEMÁTICA: ensinar "certo", ensinar "errado" – um pouco da minha experiência

Dando aulas de matemática eu confirmei na prática algo que eu já suspeitava há vários e vários anos: a esmagadora maior parte das pessoas que não gosta de matemática ou que não a compreende só pensa assim por culpa de professores que a ensinam de uma maneira completamente equivocada.

Ensinar matemática bombardeando o aluno com fórmulas, teoremas, símbolos e propriedades genéricas sem lhes explicar o SIGNIFICADO de tudo aquilo, sem lhes instruir a INTERPRETAR cada detalhe e sem lhes comprovar o PORQUÊ de cada relação entre formas e quantidades é o mesmo que tentar ensinar teoria literária para uma pessoa que nunca leu nenhum livro na vida ou forçar alguém a decorar técnicas musicais estando com os ouvidos tampados, impossibilitado de apreciar as melodias.

Significado, interpretação e motivação são imprescindíveis para a verdadeira aprendizagem da matemática. A razão de sua existência e pelo menos um tiquinho de sua aplicabilidade prática também são coisas importantes para as quais o professor deve fazer o aluno abrir os olhos. Mas o ideal mesmo, aquilo que seria o ápice da educação, embora infelizmente pouquíssimas pessoas tenham a sorte de encontrar professores que ajam com esse objetivo, é inspirar o aluno a apreciar a sublime BELEZA que existe na matemática e a DIVERSÃO que dela pode ser extraída.

Um dos acontecimentos que mais me deixou feliz neste ano foi quando eu consegui, em apenas uma manhã e uma tarde de estudos, fazer com que uma aluna de 12 anos saísse daquela nociva inércia do "matemática é muito chato" para o exultante "uau, então é por isso que eu passo o 'x' pro outro lado com o sinal invertido! Nossa, agora tudo faz sentido! Quem descobriu isso? Você também já inventou alguma coisa na matemática? Mas e se além do 'x' também tivesse um 'y'? E como eu faria se o problema fosse desse outro jeito aqui...", e assim por diante, em curiosidade genuína e animada, plena de motivação.

(Observe que, além de estar interessada na matemática em si, a menina já estava instigada pela história da matemática e pela filosofia da matemática!!!).

Óbvio que a maior parte do mérito é da própria aluna, que é inteligente, dedicada e interessada. Mas que esse rápido avanço não só no conhecimento dela, mas também na perspectiva dela para lidar com a aquisição do conhecimento, mexeu com a minha vaidade, isso mexeu!

Em resumo, a moral da história é que algumas características do nosso sistema educacional fazem com que pessoas inteligentes passem anos acreditando que são burras e se sentindo culpadas por erros que não são delas.

Eu, pessoalmente, até hoje não decorei mais do que umas quatro ou cinco fórmulas mais úteis, dessas que a gente acaba usando no dia-a-dia, e nunca aceitei bem nenhum teorema sem antes ter verificado sua demonstração rigorosa. Se tivessem me "ensinado" matemática me forçando a decorar fórmulas que eu não compreendo, me impedindo de vislumbrar o significado intuitivo dos resultados mais complexos e não me induzindo a enxergar verdades mais profundas dedutíveis de certas observações simples, então provavelmente eu nunca teria dado a mínima para a matemática.

Enfim, a lição mais valiosa é: confie na inteligência do aluno. As pessoas são sempre muito mais inteligentes do que parecem ser ou do que acreditam ser. Especialmente as crianças.

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