terça-feira, 24 de março de 2020

ENGRENAGEM SOCIAL, SOLIDARIEDADE e MATEMÁTICA

Algo que a pandemia que se deflagrou em nível mundial está deixando evidente para todas as pessoas é que, ao contrário do que a ingenuidade inconsequente de discursos pseudo-políticos (de qualquer lado) estava nos induzindo a crer, o funcionamento saudável e sustentável de uma sociedade depende de um sistema complexo e delicado que demanda tanto capacidade técnica nas mais diversas áreas quanto sentimentos humanos profundos e valorização incondicional do indivíduo e de seu trabalho, independentemente de suas ideologias.

Para que uma comunidade se mantenha viva e em bom funcionamento, todos os seus componentes são importantes e devem ser valorizados. Não existe profissão mais importante ou digna do que outra, desde que exercida com empenho e responsabilidade.
Está mais do que evidente a indispensabilidade de médicos, enfermeiros e demais funcionários da saúde (heróis com a devia honra).

Os jornalistas sérios também vêm fazendo um trabalho formidável que merece mais do que aplausos.

Cientistas são aqueles em quem depositamos nossas esperanças de uma solução total do problema (e eles já nos livraram várias vezes de coisas piores).

A força do trabalho dos juristas (juízes, advogados, defensores públicos, promotores, etc.) se tornará inegável daqui a algumas semanas, quando as instabilidades econômicas começarem a ficar mais visíveis e os problemas sociais exigirem decisões contundentes e sensatas.

Políticos têm de agir rápido, tomando escolhas duras e por vezes impopulares para lidar com problemas que a maior parte dos eleitores nem sabe que existem.

Comerciantes, empresários, vendedores, autônomos em geral... Menos de uma semana sem eles e já sentimos o impacto. Muita solidariedade será necessária para fazermos com que o reinício de suas atividades, em momento oportuno, se dê da melhor maneira possível, com o mínimo de prejuízos.

E também existem aqueles que ficam nas sombras, invisíveis para a população: os matemáticos.

MATEMÁTICOS?! Como assim? O que eles têm a ver com isso? O que um monte de símbolos e contas loucas pode representar para a sociedade?
Explico: poder prever a propagação do vírus (e encontrar formas de fazê-la despencar) depende de modelos estatísticos de crescimento populacional. Se não tivéssemos previsto o crescimento esperado na disseminação do vírus, estaríamos hoje não só em quarentena, mas também completamente despreparados, devastados, e os danos seriam muito mais terríveis.

Nenhum dos outros profissionais teria se preparado para a luta que temos pela frente se não tivesse sido possível compreender ao menos a forma quantitativa de propagação da doença. Médicos não teriam noção da extensão do problema; ministros da saúde e políticos em geral não teriam parâmetros objetivos para tomar decisões; juristas não saberiam dimensionar a gravidade ou a duração dos desafios que se nos impõem; e os trabalhadores e empresários ficariam desamparados, não tendo nem ao menos onde depositar esperanças seguras para vislumbrar o fim dessa época difícil. Estaríamos às cegas, e o número de infectados já seria bem maior.

Ocorre que os modelos computacionais para realizar essas projeções se devem a teorias matemáticas robustas, desenvolvidas progressivamente nos últimos 300 anos ou mais, desde Newton e Leibniz (pelo menos), com Cálculo (ele mesmo), Equações Diferenciais, Estatística e mais um punhado de assuntos que são trabalhados rotineiramente por profissionais competentes e alunos dedicados nas universidades.

Não vou dissertar sobre a importância de se investir em ciência e educação em todas as épocas porque acredito que nenhum argumento (daqueles que usávamos no passado, mas que eram ignorados) possa ser mais forte do que os fatos.

Ainda assim, bolsas de estudo são cortadas e alunos talentosos não encontram viabilidade econômica (ou até ambiente adequado) para dar continuidade a suas pesquisas.

Finalizo com os seguintes dizeres: a sociedade é um conjunto complexo de engrenagens no qual uma peça falha pode pôr em risco todas as outras. Para que essas engrenagens continuem em movimento, solidariedade é o óleo que evita o atrito, e o combustível deve ser o amor.

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